Olá Amigos!
Na
postagem anterior, terminamos abordando como a nossa Estação de Controle e o
Controlador de Mão se comunicam com o decoder, colocado na Locomotiva. Nessa
postagem vamos tentar falar em algumas particularidades que acontecem durante
essa comunicação, quando tratamos de decoders diferentes ou de fabricantes
diferentes.
Nos
nossos controladores, temos normalmente o botão F1 ligado ao som do Sino, o
botão F2, é normalmente ligado ao som da Buzina, mas o botão F3 já funciona de
maneira diferente, dependendo de que decoder está instalado na locomotiva.
Nas
minhas locomotivas fabricadas pela BLI, o botão F3 está associado ao som do
acoplamento/desacoplamento dos engates e nas locomotivas em que eu instalei o
Decoder da Soundtraxx, o botão F3 aciona um som curto da Buzina. Isso não quer
dizer que o CV altera diretamente a função dos botões do controlador, mas sim
que, ao acionarmos o botão F3 na Estação de Comando, dentro do Decoder, um
programa definido pelo parâmetro colocado no CV correspondente ao F3, faz com
que soe o som de engate no Decoder da BLI e faz com que soe o som da buzina
curta no Decoder da Soundtraxx.
Uma
vez selecionada a função, os dados colocados dentro dos CVs correspondentes vão
acionar os devidos programas relacionados à função exercida pelo botão e no
caso, o jeito como colocamos esses dados dentro do CV, mudam a forma de como o
efeito é apresentado.
Dissemos que um CV tem oito Bits, mas para os efeitos que
precisamos colocar, não necessariamente precisamos usar todos os bits de um CV.
Em certos CVs, temos inclusive Bits protegidos e de uso restritos que não podem
ser (e não são) mudados ao programarmos um CV.
Quando
compramos um decoder, muitos deles vêm com dezesseis efeitos relacionados ao
som da Buzina. Para dezesseis efeitos só precisamos usar quatro dos oito bits
disponíveis, pois com quatro bits podemos contar de zero a quinze, ou seja,
dezesseis estados. Cada um desses estados é associado a um efeito sonoro.
O que se faz com os outros quatro bits? No caso da buzina, por exemplo, os demais bits podem ser usados para selecionar um segundo conjunto de buzinas dessa vez associado ao botão F3 (buzina curta), no caso do decoder da Soundtraxx.
O que se faz com os outros quatro bits? No caso da buzina, por exemplo, os demais bits podem ser usados para selecionar um segundo conjunto de buzinas dessa vez associado ao botão F3 (buzina curta), no caso do decoder da Soundtraxx.
Existem locomotivas a vapor que têm dois efeitos
sonoros relativos a buzina. Tem o apito (Whistle) e tem a buzina (Horn). Ainda
não tive oportunidade de ver que botões acionam cada efeito como esses em locomotivas
que os têm, mas recebi uma informação que também em locomotivas a vapor o apito é
sempre designado para o botão F2 e o segundo efeito (Horn) seria acionado por
outro botão de função.
Locomotivas
reais usam buzinas de vários fabricantes ( Vejam o site - http://www.dieselairhorns.com )
e temos buzinas de um mesmo fabricante com sons e tonalidades diversas (muitas
das reproduzidas no site acima estão presentes nas listagens dos Decoders
disponíveis no mercado e também estão presentes em locomotivas existentes no
Brasil, portanto, é uma boa oportunidade para adequarmos nossos modelos ao
protótipo). Dependendo da locomotiva que estamos modelando, pode-se escolher uma
que reproduza mais perfeitamente o som que ela emite se este estiver dentro da
listagem de dezesseis tipos que temos a disposição no decoder e para isso
selecionamos que dados colocaremos dentro do CV, de acordo com a listagem que é
dada em cada manual.
Buzina Leslie S3L - Muito comum em modelos de locomotivas em escala HO da Athearn |
Se
formos ver pelo lado dos efeitos de luz, os botões F0, F5 e F6, são normalmente
associados a efeitos de luz como Faróis (dianteiros e traseiros), Giroscópios,
Strobes, Mars Light e etc. Mudando-se os valores dos CV associados a esses
botões, uma dessas funções será ativada.
No Decoder da Soundtraxx, isso é
regulado pelos CVs 49 (farol frontal), 50 (farol traseiro), 51 (F5), 52 (F6).
Verificando o que está na tabela de CVs da NMRA, temos que os CVs 47 a 64, são
reservados para uso exclusivo do fabricante e os CVs correspondentes àqueles destinados
a esses botões (F0,F5, F6), estão dentro dessa faixa.
Para
acionarmos os efeitos de luz, associados a esses CVs, nos decoders da
Soundtraxx, utiliza-se para isso só as quatro primeiras posições do Byte e, com
isso, pode-se contar apenas de 0 a 15 efeitos. Os efeitos vão do simples
Liga/Desliga de farol, até pisca-piscas e efeitos de faróis oscilantes, etc.
Usando esses quatro primeiros bits você seleciona um desses efeitos e quando
aperta um dos botões associados a essas funções (F0, F5 e F6) o farol ou a luz,
acende com o efeito selecionado. Mas lembre-se que existem mais quatro bits
sobrando nesse CV e, portanto, ainda podemos tirar alguns coelhos dessa
cartola.
Esses quatro bits que sobraram são usados de uma forma diferente. Cada
um deles acrescenta um novo efeito ao efeito selecionado anteriormente. O bit
5, por exemplo, é bem interessante. Suponhamos que selecionamos para as funções
F5 e F6 o efeito “0” que é o simples Liga/Desliga do farol, então ao apertarmos
essas funções, nada mais que acender uma luz vai acontecer, ou seja, a luz
acende e fica acesa, mas ao usarmos o bit 5, as coisas mudam um pouco.
Deixando-se o dígito “0” nesse bit, nada acontece, mas se colocarmos o Bit 5
com o valor “1”, ao acionarmos a buzina da locomotiva, esses faróis que estavam
simplesmente acesos, passam a piscar enquanto a buzina está sendo tocada,
voltando ao seu estado normal algum tempo depois de ela ser parada de tocar.
Importante saber também que em alguma hora, isso vai requerer algum conhecimento de "lógica binária", ou seja, algum estudo extra, além do conhecimento que devemos ter para praticarmos o Ferromodelismo. Vamos falar um pouco sobre isso a seguir.
Suponhamos que tenhamos escolhido o efeito “Type 1 Ditch Light” para o botão F5 (CV 51) no nosso controlador, que na lista de efeitos possíveis é carregado quando colocamos o valor “9” no CV, referentes aos quatro primeiros bits do CV. Sem outro efeito programado para essa função, ao apertarmos o botão F5, as luzes instaladas sobre o piloto da locomotiva se acenderão e assim permanecerão até que sejam desligadas. No entanto, ao usarmos o efeito “piscar quando tocar a buzina”, devemos colocar o dígito “1” na posição 5 do Byte que, como vimos mais acima, assume o valor 16 e, nesse caso, o nosso CV tem que ser programado com o valor 25 (9 - relativo ao efeito Ditch Light + 16 - relativo ao efeito piscar quando tocar a buzina = 25). As Locomotivas da BLI já vêm de fábrica com esse efeito programado e seu nome em inglês é "Grade Crossing Logic Bit" e também pode ser implementado nos decoders da Soundtraxx, mas isso não está nos manuais que acompanham o decoder nem as locomotivas. Tem que acessar os sites dos fabricantes e achar a literatura que explica como e onde ele pode ser programado.
Do mesmo modo que no sistema decimal, que usamos para expressar nossos números no dia a dia, cada posição mais a esquerda de um número, o algarismo ali colocado ("1" por exemplo) tem seu valor multiplicado por dez, então na primeira casa ele vale uma unidade, na segunda casa ele passa valer dez unidades e na terceira casa ele passa valer cem unidades e assim por diante.
No sistema binário, cada Bit dentro de um Byte tem um valor relativo à sua posição, de modo semelhante ao sistema decimal, mas dessa vez, a base é o número dois (2). Lembrem-se que no sistema binário só se pode usar os dígitos "0" e "1". O zero ("0") vale zero em qualquer posição mas o "1" tem o seu valor dependente da posição que ele ocupa no Byte, então, quando colocamos um dígito “1” em um Bit dentro de um Byte, ele pode assumir diversos valores, que vão depender de sua posição dentro do Byte. Na posição 1 ele vale 1, na posição 2 ele vale 2, na posição 3 ele vale 4, na posição 4 ele vale 8 e assim por diante, sempre multiplicando por 2 o valor assumido na posição anterior, até que na posição 8 seu valor é 128. Na posição 5, seu valor relativo é 16, então ao programarmos esse CV, para obtermos esse efeito, o valor a ser colocado nele não será 1, mas sim 16, correspondente ao valor do algarismo “1” colocado na quinta posição do Byte.
Suponhamos que tenhamos escolhido o efeito “Type 1 Ditch Light” para o botão F5 (CV 51) no nosso controlador, que na lista de efeitos possíveis é carregado quando colocamos o valor “9” no CV, referentes aos quatro primeiros bits do CV. Sem outro efeito programado para essa função, ao apertarmos o botão F5, as luzes instaladas sobre o piloto da locomotiva se acenderão e assim permanecerão até que sejam desligadas. No entanto, ao usarmos o efeito “piscar quando tocar a buzina”, devemos colocar o dígito “1” na posição 5 do Byte que, como vimos mais acima, assume o valor 16 e, nesse caso, o nosso CV tem que ser programado com o valor 25 (9 - relativo ao efeito Ditch Light + 16 - relativo ao efeito piscar quando tocar a buzina = 25). As Locomotivas da BLI já vêm de fábrica com esse efeito programado e seu nome em inglês é "Grade Crossing Logic Bit" e também pode ser implementado nos decoders da Soundtraxx, mas isso não está nos manuais que acompanham o decoder nem as locomotivas. Tem que acessar os sites dos fabricantes e achar a literatura que explica como e onde ele pode ser programado.
Na postagem do dia 25/03/2015, quando tratei da conversão da minha Athearn C 44-9W (C&NW) coloquei que no CV 60 do decoder 1651 da MRC que usei nela, podíamos usar o valor "0" para termos faróis direcionais, que mudam conforme acionamos o botão de reversão da locomotiva. Ao colocarmos o valor "1" para esse CV, além de direcional, o decoder entende que estamos usando uma regra que nos EUA diz que em cruzamentos de trens em pátios, as locomotivas devem usar faróis baixos ou reduzidos na sua intensidade (Rule 17) e, se colocarmos o valor "2", os faróis dianteiros e traseiros acenderão ao mesmo tempo, não importando a direção. Como podemos ver, existem muitas possibilidades de usarmos os CVs e, mais do que
isso, muitas possibilidades dentro de um mesmo CV.
No
decoder Silver+ da Lenz, por exemplo, para programarmos os faróis dianteiros e
traseiros da locomotiva, temos que acessar o CV 60. Na explicação do manual,
diz que este CV pode assumir valores de 0 a 255, com “0” sendo o padrão. Existe também
uma tabela com os efeitos disponíveis para essa função que vai de 0 (nenhum
efeito), passando por 1 (Marslight), 2 (Gyrolight), 3 (Strobe), 4 (Double
Strobe). Até aí é simples, não, mas existem outras instruções que falam o seguinte.
No valor que colocamos no CV 60, o dígito das unidades, vale para o farol
dianteiro e o dígito das dezenas vale para o farol traseiro. Se colocarmos “0”,
nenhum efeito será acrescentado (ao ligarmos o farol (F0) ele se acenderá como
seria normal), mas se colocarmos o valor “3”, por exemplo, o farol acenderá e piscará
ritimadamente (Strobe). O valor 4 fará com que ele pisque também, mas dando
duas piscadas a cada ciclo (Double Strobe). Mas lembre-se que quando mudamos a
direção da locomotiva o farol traseiro é que funciona e então, como ele se comportará
com esses valores no CV? Ao colocarmos os valores 0, 1, 2, 3 e 4 no CV, na verdade
estamos escrevendo 00, 01, 02, 03 e 04 o que no caso desse CV específico,
significa que estamos escolhendo o efeito “0” para o farol traseiro (nenhum
efeito). Para que tenhamos efeitos no farol traseiro precisamos escolher que
dígito colocaremos na casa das dezenas do valor que escolhermos dentre os
valores requeridos 0, 1, 2, 3 e 4. Se escolhermos o valor “34” para o CV 60
nesse decoder, teremos no farol dianteiro o efeito Double Strobe (unidade 4) e
no farol traseiro o efeito Strobe, correspondente ao valor 3 para as dezenas do
número que lá colocamos.
Valeria a pergunta. E os outros valores? O que aconteceria?
Acredito que nada, a não ser que o valor que lá colocássemos tivesse entre eles
os dígitos de 0 a 4 para as dezenas e de 0 a 4 para as unidades. Todos os demais
números que lá colocássemos seriam inócuos, não dariam nenhum efeito para esse CV.
Outra
característica na programação dos CVs é que, em certos Decoders, é necessário
programar um determinado CV para selecionar uma determinada função e, em
seguida, programar outro CV para alterar a função selecionada pelo CV anterior.
Como exemplo, posso citar os ajustes de volume dos diversos componentes que
formam o sistema de som de uma locomotiva SD-24 Atlas Gold, que usa um Decoder
da QSI Quantum. Nessa locomotiva para ajustarmos os volumes dos diversos
componentes do sistema de som dela, devemos primeiramente programar o CV 49 com
valores obtidos em uma tabela que consta no manual e em seguida selecionarmos o
CV 52 e colocar nele valores de 0 a 15, sendo que 0 é “nenhum som” e 15 o valor
mais alto de som, com variação de 2dB (unidade de medida de potência ou
variação de volume) para cada unidade que se acrescenta entre 0 e 15. Na tabela
de valores para o CV 49, o valor 0 seleciona a Buzina, o valor 8, seleciona o
Sino, o valor 10, seleciona o Motor, o valor 14, seleciona o Turbo e assim por
diante, até que o valor 37 seleciona o Som de Freios a Ar. Para alterarmos o
volume da buzina, temos colocar o CV 49 com valor 0 e no CV 52 colocar um valor
de 0 a 15, conforme nossa conveniência. Isso em termos de programação é complicado, mas vou tentar explicar.
Suponhamos que em nossa locomotiva SD 24, o sino esteja muito alto (valor 12) e nosso motor esteja muito baixo (valor 7). Queremos elevar o som do motor para 15 e o som do sino para 4.
O que fazemos então? Pelo manual, teríamos que ir ao CV 49 e colocarmos o valor 8 (Sino - segundo a tabela) e então acessaríamos o CV 52 e lá colocaríamos o valor 4 (abaixamos o sino de 12 para 4). Vamos agora aumentar o som do motor e para isso voltamos ao CV 49 e colocamos nele o valor 10 (Motor - segundo a tabela) e novamente voltamos ao CV 52, para ajustarmos o seu valor. Ao fazermos isso, estaremos agora ajustando o volume do som da buzina e não mais o som do sino, pois agora esse CV 52 aponta para uma região da memória do decoder onde está o valor correspondente ao volume do motor (provavelmente um outro CV que não podemos acessar diretamente) e que será atualizado com o valor que colocarmos agora no CV 52.
Todas essas manobras que fazemos para programar um decoder vai depender de como esse decoder foi projetado, que microprocessador foi usado na sua construção como sua estrutura de memória foi construída e mais uma série de situações desenhadas para fazer com que ele fosse construído, mas que, no entanto, no resultado final, ele funciona da mesma maneira que todos os demais.
Desse
modo, podemos afirmar que sempre será necessário estar com o manual do usuário
relativo ao Decoder utilizado na locomotiva para fazer sua programação de CVs. Em alguns
casos, CVs de mesmo número fazem as mesmas funções em decoders diferentes, como
é o caso dos CVs Obrigatórios segundo a NMRA, mas é importante guardar com a
locomotiva, toda informação que você tiver usado para fazer a sua conversão ou
os manuais que vieram com ela se tiver sido comprada com som original de
fábrica. Em muitos casos esses manuais são incompletos (apresentam-se de forma
reduzida ou compacta) e teremos que buscar na Internet, no site dos fabricantes
dos Decoders ou das locomotivas, manuais mais completos, pois em muitos casos,
determinado CV em um manual, faz referência a outro manual que não veio com o
Decoder ou com a Locomotiva.
O
certo é que, com a sofisticação que estamos vendo acontecer com nosso hobby,
podemos ter certeza que teremos que estudar cada dia mais para acrescentar
novos conhecimentos àqueles que já eram necessários termos para praticar nosso
hobby, quando nada dessa eletrônica embarcada em nossos modelos existia. E não
é com o som das locomotivas. Com a eletrônica necessária a partir de agora,
surgem novos desafios também nas nossas maquetes. Sistemas de proteção para as
linhas, controladores e locomotivas, sistemas de sinalização, detecção de
linhas ocupadas, acionadores de desvios com DCC e tudo mais que pode vir a
partir daí, pois podemos ver que os equipamentos continuam evoluindo e nossos
equipamentos a cada dia vão se sofisticando mais.
Por
enquanto é só Amigos! Espero que tenham gostado dessa postagem e ela tenha
servido para ajudá-lo de algum modo.
Até
a próxima postagem.
J.Oscar