quinta-feira, 16 de abril de 2015

PADRÕES, DECODERS, MONTAGENS, CV - O QUE ELES PODEM FAZER POR NÓS OU O QUE PODEMOS FAZER COM ELES? - Parte 03

Olá Amigos!
 
Na postagem anterior, terminamos abordando como a nossa Estação de Controle e o Controlador de Mão se comunicam com o decoder, colocado na Locomotiva. Nessa postagem vamos tentar falar em algumas particularidades que acontecem durante essa comunicação, quando tratamos de decoders diferentes ou de fabricantes diferentes.

Nos nossos controladores, temos normalmente o botão F1 ligado ao som do Sino, o botão F2, é normalmente ligado ao som da Buzina, mas o botão F3 já funciona de maneira diferente, dependendo de que decoder está instalado na locomotiva.

Nas minhas locomotivas fabricadas pela BLI, o botão F3 está associado ao som do acoplamento/desacoplamento dos engates e nas locomotivas em que eu instalei o Decoder da Soundtraxx, o botão F3 aciona um som curto da Buzina. Isso não quer dizer que o CV altera diretamente a função dos botões do controlador, mas sim que, ao acionarmos o botão F3 na Estação de Comando, dentro do Decoder, um programa definido pelo parâmetro colocado no CV correspondente ao F3, faz com que soe o som de engate no Decoder da BLI e faz com que soe o som da buzina curta no Decoder da Soundtraxx.

Uma vez selecionada a função, os dados colocados dentro dos CVs correspondentes vão acionar os devidos programas relacionados à função exercida pelo botão e no caso, o jeito como colocamos esses dados dentro do CV, mudam a forma de como o efeito é apresentado.
Dissemos que um CV tem oito Bits, mas para os efeitos que precisamos colocar, não necessariamente precisamos usar todos os bits de um CV. Em certos CVs, temos inclusive Bits protegidos e de uso restritos que não podem ser (e não são) mudados ao programarmos um CV.

Quando compramos um decoder, muitos deles vêm com dezesseis efeitos relacionados ao som da Buzina. Para dezesseis efeitos só precisamos usar quatro dos oito bits disponíveis, pois com quatro bits podemos contar de zero a quinze, ou seja, dezesseis estados. Cada um desses estados é associado a um efeito sonoro.
O que se faz com os outros quatro bits? No caso da buzina, por exemplo, os demais bits podem ser usados para selecionar um segundo conjunto de buzinas dessa vez associado ao botão F3 (buzina curta), no caso do decoder da Soundtraxx.
Existem locomotivas a vapor que têm dois efeitos sonoros relativos a buzina. Tem o apito (Whistle) e tem a buzina (Horn). Ainda não tive oportunidade de ver que botões acionam cada efeito como esses em locomotivas que os têm, mas recebi uma informação que também em locomotivas a vapor o apito é sempre designado para o botão F2 e o segundo efeito (Horn) seria acionado por outro botão de função.
 


Buzina Leslie S3L - Muito comum em modelos
de locomotivas em escala HO da Athearn
Locomotivas reais usam buzinas de vários fabricantes ( Vejam o site - http://www.dieselairhorns.com ) e temos buzinas de um mesmo fabricante com sons e tonalidades diversas (muitas das reproduzidas no site acima estão presentes nas listagens dos Decoders disponíveis no mercado e também estão presentes em locomotivas existentes no Brasil, portanto, é uma boa oportunidade para adequarmos nossos modelos ao protótipo). Dependendo da locomotiva que estamos modelando, pode-se escolher uma que reproduza mais perfeitamente o som que ela emite se este estiver dentro da listagem de dezesseis tipos que temos a disposição no decoder e para isso selecionamos que dados colocaremos dentro do CV, de acordo com a listagem que é dada em cada manual.
 

Buzina Nathan M5
Se formos ver pelo lado dos efeitos de luz, os botões F0, F5 e F6, são normalmente associados a efeitos de luz como Faróis (dianteiros e traseiros), Giroscópios, Strobes, Mars Light e etc. Mudando-se os valores dos CV associados a esses botões, uma dessas funções será ativada.
No Decoder da Soundtraxx, isso é regulado pelos CVs 49 (farol frontal), 50 (farol traseiro), 51 (F5), 52 (F6). Verificando o que está na tabela de CVs da NMRA, temos que os CVs 47 a 64, são reservados para uso exclusivo do fabricante e os CVs correspondentes àqueles destinados a esses botões (F0,F5, F6), estão dentro dessa faixa.

Para acionarmos os efeitos de luz, associados a esses CVs, nos decoders da Soundtraxx, utiliza-se para isso só as quatro primeiras posições do Byte e, com isso, pode-se contar apenas de 0 a 15 efeitos. Os efeitos vão do simples Liga/Desliga de farol, até pisca-piscas e efeitos de faróis oscilantes, etc. Usando esses quatro primeiros bits você seleciona um desses efeitos e quando aperta um dos botões associados a essas funções (F0, F5 e F6) o farol ou a luz, acende com o efeito selecionado. Mas lembre-se que existem mais quatro bits sobrando nesse CV e, portanto, ainda podemos tirar alguns coelhos dessa cartola.
Esses quatro bits que sobraram são usados de uma forma diferente. Cada um deles acrescenta um novo efeito ao efeito selecionado anteriormente. O bit 5, por exemplo, é bem interessante. Suponhamos que selecionamos para as funções F5 e F6 o efeito “0” que é o simples Liga/Desliga do farol, então ao apertarmos essas funções, nada mais que acender uma luz vai acontecer, ou seja, a luz acende e fica acesa, mas ao usarmos o bit 5, as coisas mudam um pouco. Deixando-se o dígito “0” nesse bit, nada acontece, mas se colocarmos o Bit 5 com o valor “1”, ao acionarmos a buzina da locomotiva, esses faróis que estavam simplesmente acesos, passam a piscar enquanto a buzina está sendo tocada, voltando ao seu estado normal algum tempo depois de ela ser parada de tocar.
 
Importante saber também que em alguma hora, isso vai requerer algum conhecimento de "lógica binária", ou seja, algum estudo extra, além do conhecimento que devemos ter para praticarmos o Ferromodelismo. Vamos falar um pouco sobre isso a seguir.
 
Do mesmo modo que no sistema decimal, que usamos para expressar nossos números no dia a dia, cada posição mais a esquerda de um número, o algarismo ali colocado ("1" por exemplo) tem seu valor multiplicado por dez, então na primeira casa ele vale uma unidade, na segunda casa ele passa valer dez unidades e na terceira casa ele passa valer cem unidades e assim por diante.
No sistema binário, cada Bit dentro de um Byte tem um valor relativo à sua posição, de modo semelhante ao sistema decimal, mas dessa vez, a base é o número dois (2). Lembrem-se que no sistema binário só se pode usar os dígitos "0" e "1". O zero ("0") vale zero em qualquer posição mas o "1" tem o seu valor dependente da posição que ele ocupa no Byte, então, quando colocamos um dígito “1” em um Bit dentro de um Byte, ele pode assumir diversos valores, que vão depender de sua posição dentro do Byte. Na posição 1 ele vale 1, na posição 2 ele vale 2, na posição 3 ele vale 4, na posição 4 ele vale 8 e assim por diante, sempre multiplicando por 2 o valor assumido na posição anterior, até que na posição 8 seu valor é 128. Na posição 5, seu valor relativo é 16, então ao programarmos esse CV, para obtermos esse efeito, o valor a ser colocado nele não será 1, mas sim 16, correspondente ao valor do algarismo “1” colocado na quinta posição do Byte.

Suponhamos que tenhamos escolhido o efeito “Type 1 Ditch Light” para o botão F5 (CV 51) no nosso controlador, que na lista de efeitos possíveis é carregado quando colocamos o valor “9” no CV, referentes aos quatro primeiros bits do CV. Sem outro efeito programado para essa função, ao apertarmos o botão F5, as luzes instaladas sobre o piloto da locomotiva se acenderão e assim permanecerão até que sejam desligadas. No entanto, ao usarmos o efeito “piscar quando tocar a buzina”, devemos colocar o dígito “1” na posição 5 do Byte que, como vimos mais acima, assume o valor 16 e, nesse caso, o nosso CV tem que ser programado com o valor 25 (9 - relativo ao efeito Ditch Light + 16 - relativo ao efeito piscar quando tocar a buzina = 25). As Locomotivas da BLI já vêm de fábrica com esse efeito programado e seu nome em inglês é "Grade Crossing Logic Bit" e também pode ser implementado nos decoders da Soundtraxx, mas isso não está nos manuais que acompanham o decoder nem as locomotivas. Tem que acessar os sites dos fabricantes e achar a literatura que explica como e onde ele pode ser programado.
 
Na postagem do dia 25/03/2015, quando tratei da conversão da minha Athearn C 44-9W (C&NW) coloquei que no CV 60 do decoder 1651 da MRC que usei nela, podíamos usar o valor "0" para termos faróis direcionais, que mudam conforme acionamos o botão de reversão da locomotiva. Ao colocarmos o valor "1" para esse CV, além de direcional, o decoder entende que estamos usando uma regra que nos EUA diz que em cruzamentos de trens em pátios, as locomotivas devem usar faróis baixos ou reduzidos na sua intensidade (Rule 17) e, se colocarmos o valor "2", os faróis dianteiros e traseiros acenderão ao mesmo tempo, não importando a direção. Como podemos ver, existem muitas possibilidades de usarmos os CVs e, mais do que isso, muitas possibilidades dentro de um mesmo CV.
 
No decoder Silver+ da Lenz, por exemplo, para programarmos os faróis dianteiros e traseiros da locomotiva, temos que acessar o CV 60. Na explicação do manual, diz que este CV pode assumir valores de 0 a 255, com “0” sendo o padrão. Existe também uma tabela com os efeitos disponíveis para essa função que vai de 0 (nenhum efeito), passando por 1 (Marslight), 2 (Gyrolight), 3 (Strobe), 4 (Double Strobe). Até aí é simples, não, mas existem outras instruções que falam o seguinte. No valor que colocamos no CV 60, o dígito das unidades, vale para o farol dianteiro e o dígito das dezenas vale para o farol traseiro. Se colocarmos “0”, nenhum efeito será acrescentado (ao ligarmos o farol (F0) ele se acenderá como seria normal), mas se colocarmos o valor “3”, por exemplo, o farol acenderá e piscará ritimadamente (Strobe). O valor 4 fará com que ele pisque também, mas dando duas piscadas a cada ciclo (Double Strobe). Mas lembre-se que quando mudamos a direção da locomotiva o farol traseiro é que funciona e então, como ele se comportará com esses valores no CV? Ao colocarmos os valores 0, 1, 2, 3 e 4 no CV, na verdade estamos escrevendo 00, 01, 02, 03 e 04 o que no caso desse CV específico, significa que estamos escolhendo o efeito “0” para o farol traseiro (nenhum efeito). Para que tenhamos efeitos no farol traseiro precisamos escolher que dígito colocaremos na casa das dezenas do valor que escolhermos dentre os valores requeridos 0, 1, 2, 3 e 4. Se escolhermos o valor “34” para o CV 60 nesse decoder, teremos no farol dianteiro o efeito Double Strobe (unidade 4) e no farol traseiro o efeito Strobe, correspondente ao valor 3 para as dezenas do número que lá colocamos.
Valeria a pergunta. E os outros valores? O que aconteceria? Acredito que nada, a não ser que o valor que lá colocássemos tivesse entre eles os dígitos de 0 a 4 para as dezenas e de 0 a 4 para as unidades. Todos os demais números que lá colocássemos seriam inócuos, não dariam nenhum efeito para esse CV.

Outra característica na programação dos CVs é que, em certos Decoders, é necessário programar um determinado CV para selecionar uma determinada função e, em seguida, programar outro CV para alterar a função selecionada pelo CV anterior. Como exemplo, posso citar os ajustes de volume dos diversos componentes que formam o sistema de som de uma locomotiva SD-24 Atlas Gold, que usa um Decoder da QSI Quantum. Nessa locomotiva para ajustarmos os volumes dos diversos componentes do sistema de som dela, devemos primeiramente programar o CV 49 com valores obtidos em uma tabela que consta no manual e em seguida selecionarmos o CV 52 e colocar nele valores de 0 a 15, sendo que 0 é “nenhum som” e 15 o valor mais alto de som, com variação de 2dB (unidade de medida de potência ou variação de volume) para cada unidade que se acrescenta entre 0 e 15. Na tabela de valores para o CV 49, o valor 0 seleciona a Buzina, o valor 8, seleciona o Sino, o valor 10, seleciona o Motor, o valor 14, seleciona o Turbo e assim por diante, até que o valor 37 seleciona o Som de Freios a Ar. Para alterarmos o volume da buzina, temos colocar o CV 49 com valor 0 e no CV 52 colocar um valor de 0 a 15, conforme nossa conveniência. Isso em termos de programação é complicado, mas vou tentar explicar.
Suponhamos que em nossa locomotiva SD 24, o sino esteja muito alto (valor 12) e nosso motor esteja muito baixo (valor 7). Queremos elevar o som do motor para 15 e o som do sino para 4.
O que fazemos então? Pelo manual, teríamos que ir ao CV 49 e colocarmos o valor 8 (Sino - segundo a tabela) e então acessaríamos o CV 52 e lá colocaríamos o valor 4 (abaixamos o sino de 12 para 4). Vamos agora aumentar o som do motor e para isso voltamos ao CV 49 e colocamos nele o valor 10 (Motor - segundo a tabela) e novamente voltamos ao CV 52, para ajustarmos o seu valor. Ao fazermos isso, estaremos agora ajustando o volume do som da buzina e não mais o som do sino, pois agora esse CV 52 aponta para uma região da memória do decoder onde está o valor correspondente ao volume do motor (provavelmente um outro CV que não podemos acessar diretamente) e que será atualizado com o valor que colocarmos agora no CV 52.
 
Todas essas manobras que fazemos para programar um decoder vai depender de como esse decoder foi projetado, que microprocessador foi usado na sua construção como sua estrutura de memória foi construída e mais uma série de situações desenhadas para fazer com que ele fosse construído, mas que, no entanto, no resultado final, ele funciona da mesma maneira que todos os demais.

Desse modo, podemos afirmar que sempre será necessário estar com o manual do usuário relativo ao Decoder utilizado na locomotiva para fazer sua programação de CVs. Em alguns casos, CVs de mesmo número fazem as mesmas funções em decoders diferentes, como é o caso dos CVs Obrigatórios segundo a NMRA, mas é importante guardar com a locomotiva, toda informação que você tiver usado para fazer a sua conversão ou os manuais que vieram com ela se tiver sido comprada com som original de fábrica. Em muitos casos esses manuais são incompletos (apresentam-se de forma reduzida ou compacta) e teremos que buscar na Internet, no site dos fabricantes dos Decoders ou das locomotivas, manuais mais completos, pois em muitos casos, determinado CV em um manual, faz referência a outro manual que não veio com o Decoder ou com a Locomotiva.

O certo é que, com a sofisticação que estamos vendo acontecer com nosso hobby, podemos ter certeza que teremos que estudar cada dia mais para acrescentar novos conhecimentos àqueles que já eram necessários termos para praticar nosso hobby, quando nada dessa eletrônica embarcada em nossos modelos existia. E não é com o som das locomotivas. Com a eletrônica necessária a partir de agora, surgem novos desafios também nas nossas maquetes. Sistemas de proteção para as linhas, controladores e locomotivas, sistemas de sinalização, detecção de linhas ocupadas, acionadores de desvios com DCC e tudo mais que pode vir a partir daí, pois podemos ver que os equipamentos continuam evoluindo e nossos equipamentos a cada dia vão se sofisticando mais.

Por enquanto é só Amigos! Espero que tenham gostado dessa postagem e ela tenha servido para ajudá-lo de algum modo.

Até a próxima postagem.

J.Oscar

terça-feira, 14 de abril de 2015

PADRÕES, DECODERS, MONTAGENS, CVs - O QUE ELES PODEM FAZER POR NÓS OU O QUE PODEMOS FAZER COM ELES - Parte 02


Olá Amigos!
 
Na postagem anterior falamos do aspecto físico dos decoders, suas variações e facilidades de instalação nas nossas transformações e conversões. Com o decoder instalado dentro da nossa locomotiva, começa uma parte bastante interessante da conversão que é ajustar o decoder para que nossos modelos fiquem o mais parecidos possível com uma locomotiva real, operando na ferrovia de nossa preferência. Do mesmo modo que ao adaptarmos um modelo comercial de uma locomotiva para uma nova pintura e representação de modelos reais, podemos parar em qualquer momento que queiramos e ninguém pode dizer que nosso trabalho está bom ou ruim, pois é assim que queremos ficar e isso depende somente da nossa vontade, mas isso não quer dizer que se seguíssemos adiante, não ficaria melhor.
Comprar um modelo comercial e colocá-lo para rodar em nossa maquete sem mais nada, pode ser o auge para alguns, mas não precisa ser assim. Existem muitas outras fases do Ferromodelismo que podemos fazer, mas alguns de nós não queremos prosseguir, não achamos necessário, não temos como custear esse prosseguimento ou não sabemos como fazê-lo.
Com o DCC acontece a mesma coisa. Para muitos já basta ter a locomotiva com seus efeitos de luz e som de fábrica, funcionando e rodando na maquete. Do mesmo modo que na parte de modelagem física da locomotiva, podemos como alguns gostam de falar, “customizá-la” para representar uma locomotiva que vimos em nossas andanças pelos trilhos do Brasil ou por fotos de lugares que não estivemos, no DCC podemos mudar os parâmetros que vêm de fábrica para adequá-la a um modelo mais perto do real, ou de uma realidade que queremos obter.
Ao colocarmos um decoder novo em uma locomotiva, não importa de que marca ou qualidade, ele virá com alguns parâmetros em comum com todos os outros que já foram fabricados até então. O principal deles é o endereço padrão Nº 03.
Por que 03? Confesso que não sei, mas imagino que, não importando qual seja, era necessário que viesse com um endereço inicial e que todos soubessem de antemão qual seria, sem precisar procurar no manual do decoder qual endereço o fabricante escolheu para aquele decoder. Poderia ser o ano da fundação da companhia, poderia ser o mês do ano em que nasceu a filha do fundador, poderia ser qualquer um, mas sempre haveria necessidade de consultar alguma coisa para saber qual é e assim, com um número padrão para todos, é fácil descobrir qual seria e o Nº 03 foi escolhido.
Então, fica estabelecido que todo decoder novo, comprado em qualquer lugar do mundo, que seja homologado pela NMRA, (possivelmente com os demais, também seja assim) virá com o endereço padrão Nº 03 e pronto para funcionar normalmente, mesmo que não façamos nada mais, a não ser instalá-lo na nossa locomotiva.
Se assim o quisermos, depois disso teremos que fazer nossa locomotiva funcionar e verificar o que precisará ser mudado para que ela trabalhe com mais qualidade ou realismo. Um dos pontos que mais vão influenciar essa parte é o motor. Cada locomotiva tem um motor, fabricado por uma companhia diferente, com três ou cinco polos, com ou sem volantes de inércia, com correntes de trabalho que variam até entre os mesmos modelos, portanto características intrínsecas do motor e que variam muito e teremos que adaptar o nosso decoder a trabalhar da melhor maneira possível com essas características.
Para sabermos se essas condições permitirão que ela funcione com qualidade, devemos por nossa locomotiva para funcionar e observarmos seu desempenho. Estando tudo normal ou não, é conveniente que entremos na programação do decoder para estudarmos qual são os parâmetros que estão selecionados para ela funcionar. Devemos anotar esses dados para, se necessário, voltarmos a eles em momento futuro. Eu venho fazendo assim com minas locomotivas modificadas e deixando essas anotações guardadas junto com toda documentação que tenha sido usada durante a sua conversão.
Ao colocarmos nossa locomotiva em uma linha e entrarmos no modo de programação, o nosso equipamento de controle DCC, pelo menos o que uso normalmente, que é o MRC Prodige Advanced, mas acredito que os demais sejam assim também, irá nos direcionar imediatamente para a mudança de endereço (Address). Em seguida outros parâmetros nos serão apresentados como Taxa de aceleração (ACC - Aceleration Rate), Taxa de desaceleração (DEC - Deceleration Rate - Momentum), Tensão de partida (SV - Starting Voltage), Tensão máxima (TV – Top Voltage) e, em seguida nos dará acesso aos CVs. Aí começam as maiores dúvidas. Todos os parâmetros citados acima têm seu numero de CV e mudá-los significa que estamos mudando os seus valores, mas como eles são apresentados com seus nomes, parece que ainda não entramos na programação de CVs propriamente dita, mas já estaremos mudando-os, se fizermos alguma modificação nos seus valores.
Mas o que será um CV? Para que eles servem? Quais valores devo colocar neles? Em quais devo mexer? Se eu colocar um valor errado estrago o decoder? Por que devo mexer em alguns deles? São perguntas que certamente vão aparecer em nossas mentes e as respostas só poderão ser entendidas a partir do instante que entendermos o que é um CV.
Fazendo uma analogia com o nosso computador pessoal, para entrarmos no Facebook, por exemplo, temos que dar instruções ao computador para que ele nos direcione à nossa página. Temos que entrar com o endereço do Facebook, temos que nos identificar para ele, temos que colocar nossa senha, e por aí vai até chegarmos onde queremos, para falar com nossos amigos, colocar nossas fotos e vídeos, dar nossas opiniões sobre os assuntos em destaque, ou seja, interagir com a nossa comunidade.
Com o DCC e os decoders é mais ou menos assim que funciona. Temos que dizer para eles o que queremos que ele faça e até mesmo como ele vai fazer isso. Para isso ele tem que interagir conosco e essa interação se dá através da nossa Estação de Controle e da programação dos CVs.
É praticamente uma linguagem que, para quem fabrica e para quem usa, seja tal que todos possam se entender e qual será o resultado final que um dispositivo nos retornará, não importando de que marca ele seja e onde tenha sido fabricado.
Essa linguagem é o CV (Configuration Variables, ou Variáveis de Configuração).

Se acessarmos o site da NMRA (www.nmra.org) e acessarmos a aba STANDARDS & RECOMMENDED PRACTICES (NORMAS ou PADRÕES RECOMENDADOS) e formos à sessão S-9.2.2 http://nmra.org/sites/default/files/standards/sandrp/pdf/s-9.2.2_decoder_cvs_2012.07.pdf chegaremos à sessão denominada DCC Configurations Variables e teremos acesso, dentre outras coisas, a uma tabela com todos os CVs disponíveis dentro de um Decoder.
Se olharmos essa tabela com atenção, veremos que há cerca de um mil e vinte e quatro (1024) CVs disponíveis, mas que somente 256 CVs estão disponíveis hoje. O manual da MRC faz menção ao CV 513 para a programação de Decoders de Acessórios, mas esse CV se encontra em uma região reservada para uso futuro na Lista da NMRA e, de minha parte, algum estudo sobre esse assunto ainda precisa ser feito, portanto siga as instruções do manual se, por acaso, for necessário entrar nessa fase. Vou me informar sobre esse assunto e, quando possível podemos colocar um texto sobre o assunto.
Os CVs de números 257 a 891 estão reservados para a NMRA para uso futuro. Os CVs 892 a 895 estão disponíveis, são opcionais mas não encontrei explicações para eles e os de Nº 892 a 1024, estão disponíveis, mas associados a uma norma TN-9.2.3 que também não consegui saber a que se refere.
Muitos deles estão assinalados com amarelo, muitos são de uso restrito da NMRA e outros são liberados para os fabricantes.
Nessa tabela, também podemos ver que alguns desses CVs são Obrigatórios (Mandatory (M), outros são Recomendáveis (Recommended (R) e outros são Opcionais (Optional (O). Segundo a própria descrição da Norma, os CVs marcados como Obrigatórios devem ser implementados para que aquele produto ou Decoder possa ser tido como obedecendo às normas ou homologado pela NMRA, os CVs marcados como Recomendados são fortemente encorajados a serem implementados, mas não são Obrigatórios e os marcados como Opcionais, ficam a cargo dos fabricantes se serão implementados ou não, ou de que modo eles serão usados.
Então, é por isso que cada Decoder, de cada fabricante vem com o seu próprio manual e cada fabricante determina de que modo, determinado número de CV é usado e para o que é usado. Os CVs são opção do fabricante, como também, o que será feito com eles.
Se você que agora lê essa postagem estiver seguindo este meu Blog verá que na postagem do dia 07/04/2015 coloquei uma lista de termos usados no sistema DCC com os quais devemos estar familiarizados para que possamos entender como tudo funciona. Nessa postagem falamos sobre Bits e Bytes.
Um CV tem um Byte de comprimento. Um Byte e formado por oito Bits, (oito bits – oito posições onde colocamos dados ditos “Binários”, como “0” e “1”). Com dados colocados nesses oito Bits, ou seja, colocando-se zeros (0) e uns (1) nessas posições temos 256 possibilidades de combiná-los, ou seja, pode-se contar de 0 a 255 unidades.
Qual a importância que tem os CVs? Total, podemos dizer com certeza.
Os CVs são tão importantes que, através deles, podemos inclusive mudar as respostas aos botões de funções de nossa Estação de Comando.
Quando ligamos nossos controladores DCC estes se comunicam com o Decoder através de Comandos Digitais, através dos trilhos com os decoders. A comunicação da estação de controle como decoder se dá por dados padronizados pela NMRA chamados de Pacotes (Packets). Esses pacotes “falam” com o decoder e neste, acionam programas que vão desempenhar as funções que determinamos no nosso controlador. Botões de funções, estabelecimento de Consists, ligar o Relógio Rápido, ligar a função de Programação dos CVs, estabelecer a quantidade de passos a serem usados para variar a velocidade das locomotivas (14, 28, 128 passos) e todas as demais funções do nosso controlador DCC são estabelecidas de antemão pela NMRA. Para sabermos o que faz qualquer comando dentro do controlador, precisamos ler o manual do fabricante do nosso controlador e entendermos e saber como e para quê acionamos qualquer dos botões disponíveis.
A ilustração mostra o controle de mão do MRC Prodige Advance
e o que faz cada botão disponível. 
Os botões que se comunicam mais diretamente com o decoder são os botões de funções, F1 a F0, diretamente mostrados no controle de mão e os que são acionados com o acionamento de dois botões, como F10, F11, etc. Também tem o botão de direção da locomotiva e o de parada emergencial que ao ser acionado faz com que todo o sistema pare de funcionar, mas em alguns decoders, acionam alguns efeitos interessantes, como por exemplo, acionar o programa de desligamento do som do motor em alguns decoders, simulando o desligamento da locomotiva.

Observem que sempre que se aciona um botão no controlador de mão, uma luzinha pisca na estação de controle. Isso significa que o controlador DCC está se comunicando, mandando informações ao decoder. Não é como simplesmente ligarmos o interruptor da luz da nossa sala, que só liga o fio fase da instalação elétrica da nossa casa, com a lâmpada que está no teto da casa já preparada para receber essa conexão. É uma comunicação mais ou menos do tipo: “Alô Decoder! Preste atenção! O Ferromodelista está querendo acionar o farol da locomotiva, verifique quais são as variáveis programadas dentro de sua memória (CVs) e acione o farol de acordo com o que está programado nela”.
Prezados Amigos. Essa nova postagem está novamente ficando longa demais para ser publicada em uma só postagem. Portanto, vou colocar esta como sendo a parte dois do assunto e continuar preparando a outra (ou outras partes) desse mesmo assunto, que se mostra bastante interessante de escrever e, espero que seja interessante para vocês lerem e que possam usá-lo em suas experiências com o DCC.
Até a próxima postagem!
Saudações
J.Oscar