quarta-feira, 20 de setembro de 2017

LEVANDO O HOBBY MUITO A SÉRIO

Olá Amigos!

Em 28/10/1997 faleceu um Grande Amigo. Seu nome era Itaí de Hollanda Cavalcante. 
Infelizmente foi eu a pessoa que descobriu seu falecimento e possivelmente a última pessoa  vê-lo vivo. Trabalhamos na maquete da sede da abpf (Cabine 3) aqui no Rio de Janeiro durante o sábado e no domingo anteriores e deixei-o em casa depois do trabalho, mas durante a semana seguinte, tentei várias vezes entrar em contato com ele pois fiquei preocupado com ele, por vários motivos. Como não consegui contata-lo, procurei sua atual companheira e fomos ao apartamento que ele ocupava no momento e quando conseguimos entrar, o encontramos já falecido, infelizmente!
O Itaí, apesar de seus vários problemas de saúde era um cara muito espirituoso e um Grande Modelista/Ferromodelista. 
Protético de profissão, usava seus conhecimentos profissionais para ajudá-lo no hobby, fazendo trabalhos primorosos no âmbito da confecção de modelos e detalhes ferroviários.
Nessa época, já havia uma grande discussão sobre escalas no ferromodelismo e sobre o conceito de "perfeitamente em escala" e graças a essa sua espirituosidade ele, em 1994, escreveu um artigo, muito bem humorado sobre o assunto, que foi publicado na Revista Centro Oeste nº 92 (1/12/1994) 
(http://vfco.brazilia.jor.br/ferreomodelismo.iniciar/serio.shtml) editado por seu "primo" e também nosso Grande Amigo, Flávio Roseiro Cavalcante (FRC).
Ontem, conversando com um Amigo, de repente me lembrei dele e mais tarde verifiquei que se aproximava a data do vigésimo aniversário de seu falecimento e em homenagem a ele e a nossa amizade, resolvi republicar seu artigo aqui neste nosso Blog. 

Aos que me seguem, espero que gostem.

LEVANDO O HOBBY MUITO A SÉRIO

Itaí Cavalcante
Centro-Oeste nº 92 - 1º-dez-1994
Estava eu tirando certa dúvida no dicionário, quando a curiosidade levou-me a pesquisar a palavra "modelismo":
"Reproduzir com exatidão, nos mínimos detalhes, em um determinado tamanho (escala)". 
Lembrei que sou um ferreomodelista, no mais puro significado da palavra. Então, perguntei-me:— Será que meus modelos estão realmente na escala?
Passei a mão no paquímetro, espessímetro, régua de cálculo, multi-teste digital, analógico, plantas do material rodante e da ferrovia modelada — enfim, tudo que me pudesse dar a certeza de o material ser realmente HO (1:87,085897), sem arredondar nada! Afinal, escala é escala.
Comecei pela maquete 1,50 x 2,10 metros, de grades com trilhos de latão, conferindo suas medidas de acordo com a ferrovia-protótipo.
Qual não foi a minha surpresa! Totalmente fora de escala, um verdadeiro absurdo. Me deu até taquicardia!
Passado o susto, recalculei tudo para iniciar nova maquete, e tratei de adquirir grades (Trilhos pré montados- NR) com trilhos "nickel-silver" — e isso, porque não encontrei trilhos de aço.
Minha maquete em escala começará na sala, pois a estação é um prédio majestoso, com suas devidas proporções.
Através da parede, abrirei uma passagem com um belo portal de túnel, devidamente modelado em pedra de mão.
Essa transição terá uma rampa em aclive de 1,5 grau, até chegar na altura do camiseiro do quarto e o espelho de parede.
Mais adiante, uma curva bem suave levará à oficina de reparo das locomotivas.
Entrando no armário embutido, a via principal sairá no quarto dos garotos.
Como existe uma janela, outra rampa deverá ser feita, com 2 graus.
Estou negociando um cantinho, com os garotos, para poder fazer um depósito de óleo e a caixa d'água — e isso tudo, numa altura que não atrapalhe os posters.
Senão, terei que fazer um desvio, e aí os custos subirão.
Tudo devidamente demarcado, a linha passará pelo banheiro.
Aí, haverá uma bela obra de arte: — Um pórtico, para não incomodar quem estiver usando.
Imagine uma bela composição, com uma G-22U tracionando 14 vagões fechados sobre esse pórtico em arco, e o som das rodas passando na junção dos trilhos. Dá para ficar com os olhos rasos d'água.
Entrando na cozinha, uma fábrica, ou uma refinaria de petróleo.
Se for fábrica, usarei o tampo do armário de madeira. Bem projetado, dá para colocar um armazém.
A refinaria, é claro que será em cima do exaustor. Vou aproveitar o vapor que sobe das panelas. Que realismo!
Da cozinha para a área de serviço, terei um pequeno problema: — O secador de roupa terá que mudar de lugar.
Não posso conceber a composição passando em meio a roupas penduradas.
Esta nova maquete terá somente linha singela. Não quero nada parecido com ferrovilandia, com linhas para todos os lados. Uma ferrovia bem simples, porém em escala!
Do material rodante, só 1/3 estava em escala. Quando não era a altura, era o comprimento. Os rodeiros, mais pareciam rodas de caminhão fora-de-estrada.
Como poderia compactuar com uma coisa dessas, sendo um modelista!? Agora, tudo que é meu está em escala.
Quanto tempo eu joguei fora, operando aquela maquete 1,50 x 2,10 metros, e assim mesmo, guardando-a em pé atrás do armário!
Quanta satisfação jogada fora, envelhecendo os vagões e locomotivas fora de escala! E a arte desperdiçada, com as obras de arte no tamanho errado!
Quanto olho arregalado jogado fora, diante da vitrine — mão no bolso, dinheiro curto etc. —, quando surgia um novo lançamento!
E que desperdício de tardes e noites, deitado no chão, só para ficar na altura da ferrovia, para ver a composição vindo na minha direção... — com aqueles monstruosos milímetros fora do lugar!

Pois bem, Amigos. Por enquanto é só. 

O Blog está meio parado, mas continuo pensando em assuntos para mantê-lo ativo, mas falta-me tempo suficiente para isso, mas persisto na intenção de continuar com meus artigos assim que me for possível.

Até uma próxima postagem!

5 comentários:

  1. Muito bom o artigo. Nos leva ao mundo da imaginação e mostra a paixão do hobby, estampada através das palavras.

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  2. Eu sempre gostei desse texto do meu amigo, pois expressa de uma forma bem sutil que não importa se está em escala perfeita ou não, o importante é curtir o hobby. O importante é estar satisfeito com o que você faz e curte. Claro que quanto mais realista for seu material, melhor, mas dá para ficar satisfeito se isso não for alcançado de maneira total, afinal existe material para qualquer nível de exigência ou bolso ($$$).
    Obrigado por participar deste meu Blog.
    Saudações
    J.Oscar

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Nem precisamos falar que o material nacional na mão do Itaí virava ouro, quando não mexia na mecânica era no envelhecimento e acabamento.

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    Respostas
    1. Grande Desaparecido Rodrigo Carvas!!!
      Prazer em tê-lo por aqui. Realmente, nas mãos do Itaí, o simples virava joia.
      Grande perda para o nosso grupo.
      J.Oscar

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